No dia 15 de agosto de 2020, o professor André Magnago conduziu uma palestra sob o formato de Live, intitulada “Viver o sonho da arte: desafios e recompensas”. Em um bate-papo, ele nos contou sobre a ideia deste novo projeto e discorreu, brevemente, sobre essa palestra.
O professor foi acompanhado por dois artistas plásticos: Fernando Gómez e João Wesley, com a mediação do professor Magnago, eles dialogaram sobre o sonho de viver da Arte. Como forma de facilitar a explicação sobre a palestra, o professor fez uma divisão em subtítulos e discorreu sobre os assuntos mais pertinentes. Se você é amante de Artes e tem interesse de saber como é viver deste sonho, não perca essa chance.
Angústia existencial por não realizar seus sonhos
“Na nossa sociedade é muito forte este sentimento de angústia existencial devido a não realização dos sonhos, as pessoas não conseguem trabalhar com o que querem e passam a vida inteira cultivando um sonho frustrado, pois nunca há tempo de começar, de dar um pontapé inicial. Os indivíduos que conseguem realizar esse trabalho, não possuem tempo suficiente pra passar de um nível amador para um nível profissional.Foi dentro dessa esfera que iniciei a minha fala, trabalhando essa ideia, para que assim a pessoa se sinta incentivada a realizar seu sonho, no caso, ter uma formação e conseguir trabalhar com arte.”
Medo proporcional ao tamanho do aprendizado
“Neste item utilizei como referência um livro que li recentemente de Steven Pressfield chamado “A Guerra da Arte”, ele serviu de base para a minha fala em relação à resistência existente no universo, que pode ser entendida como uma força em relação a qualquer coisa que queiramos fazer elevar a nossa condição humana, ou seja, quanto mais precisamos tomar uma decisão, mais ela pode nos aproximar de uma realização pessoal. Logicamente, para realizarmos o que viemos fazer na Terra, se desenvolver, se transformar, permeará uma sensação de medo, além de outras sensações, que explicarei na fala, sensações essas que nos impedirão, por vezes, a dar um passo em direção ao que queremos, e, muitas vezes, acabamos nos desviando e não indo em direção ao que queremos de verdade. Dessa forma, quanto maior o medo, segundo esse autor, maior o bem trazido do que almejamos, o medo pode ser comparado a uma bússola, quando você sente que ele está muito forte para tomar uma decisão, quer dizer que aquela coisa que você está com medo de fazer pode ser muito proveitosa para você.”
Sonhos não são realizados com energia emprestada
“A realização dos nossos sonhos não parte da energia emprestada de outrem, ou seja, não depende dos outros, depende de você mesmo. É comum ouvirmos relatos sobre a falta de apoio em casa, é importante entendermos que não será a partir do apoio de casa que você vai realizar algo, isso deve partir de dentro de você, um autoestímulo, uma vontade de fazer e uma determinação. Você pode se matricular no melhor curso de Artes, por exemplo, mas se você não cumpre as tarefas passadas pelos professores, não desenvolve as pesquisas, não quer chegar ou cede a essa resistência aos seus compromissos, fica colocando as coisas urgentes na frente das coisas importantes, você não vai conseguir, você não vai conseguir realizar com a energia dos outros, é você, somente você, que vai poder fazer o que você precisa fazer.”
Amador versus Profissional
“A ideia de amador e profissional tem a ver com o empenho que se dá para fazer algo e como você entende o que você está fazendo, quando você é um amador você faz as coisas quando dá tempo, quando você é profissional você se programa para produzir todos os dias com um cronograma, com carga horária semanal, as pessoas não conseguem fazer isso muito bem, sobretudo no campo da cultura, escritor, músico, desenhista, não consegue ter essa carga de serviço, por isso fica num nível amador, chegam a ter um reconhecimento local, mas isso não quer dizer que é profissional, o profissional se entende como profissional, ele é profissional para ele mesmo, então essa questão da profissionalização está muito relacionada à organização do serviço.”
Imprescindível para mim
“O meu trabalho de artes é imprescindível para mim, quando eu começo a pensar que se eu não realizar o meu trabalho de arte, o mundo vai perder muito, é um delírio de grandeza, e isso pode vir a atrapalhar, porque não funciona assim. Logicamente, se Leonardo da Vinci não tivesse feito a arte dele, o mundo perderia muita coisa atualmente, mas não foi por isso que ele produziu, certamente ele fez porque era algo imprescindível para ele.”
Trabalhar sem apego com o resultado
“Para debater acerca desse tópico, utilizei algumas referências. Uma delas faz referência à filosofia, utiizando comentários de algumas obras, originadas na Índia Antiga e na Grécia. Relacionada à Índia Antiga, a referência é o livro Bhagavad Gita, que é um clássico indiano, e à Grécia será utilizada a história da Batalha das Termópilas, os 300 de Esparta para ilustrar que os guerreiros não combatiam pela vitória, mas sim pelo simples do combate, por exemplo, um soldado espartano tinha desprezo pela morte. Segundo Pressfield, para o artista há o desprezo também, só que no caso seria o desprezo pelo fracasso.”
Derrota no mundo real
“A ideia da derrota no mundo real está relacionada à tentativa, por exemplo, a elaboração de um projeto para um prêmio, a inscrição de uma obra em um salão de arte e o projeto não é selecionado, nesse caso há uma derrota no mundo real, pois há a realização do trabalho e ele é concluído, porém há a rejeição deste projeto. Se a pessoa chegou nesse nível, nesse ponto da execução do serviço, ela já tem sua primeira derrota no mundo real, o que é muito melhor do que não ter chegado até isso. No nível amado não teria nem a tentativa, Uma boa analogia deste momento da derrota seria quando a pessoa está na Arena sendo devorada pelo leão, sendo assim, ela não é mais espectadora.”
Um profissional vê sua arte como ofício
“Neste tópico voltamos na questão da separação de amador do profissional, o indivíduo que encara seu fazer artístico como ofício, ele tem um cronograma de trabalho, há uma organização das ferramentas, o que ele precisar durante a execução do trabalho estará ao alcance dele quando ele iniciar o sei ofício, está será uma complementação do item que trata do amador e do profissional.”
O medo da rejeição é biológico e evolutivo
“O autor Pressfield discorre que a humanidade passou maior parte de sua existência no nível tribal de organização social, logo o número de pessoas era bastante limitado e cada um tinha uma função para cumprir, dentro dessa estrutura não tinha como se eximir da sua função, senão a tribo não funcionava, e essa negligência poderia levar à rejeição da tribo por meio do abandono, rechaço, ou até mesmo um assassinato. Então, desde os primórdios sempre houve preocupação pela questão da aceitação, de estar próximo do líder. Essa preocupação com a aceitação acaba gerando medo, que é uma resposta biológica do nosso organismo.
É importante ressaltar que atualmente estamos em um nível de desenvolvimento social das grandes cidades, em que é visível a quantidade de pessoas que habitam nesses locais que não é mais possível decorar feições, muito menos a função que cada um desempenha, oposta à estrutura social tribal. Isso faz com que nós alcancemos um nível maior de liberdade, nos permitindo fazer o que achamos que é melhor para nós mesmos.”
Crítica externa e o inimigo interno
“Sobre a questão do medo da crítica externa, nesse estágio social em que vivemos, há o desenvolvimento de um problema interno, pois é visível que há o medo dessa rejeição, medo de ser criticado, sendo essa uma questão interna, que acaba ecoando nas questões externas, pois há momentos que acabamos nos desmotivando para as atividades externas devido a esse problema interno. É claro que a crítica existe, mas a gente não pode deixar essa crítica e o medo dela, sobretudo, atrapalhe a introdução e o desenvolvimento de um trabalho artístico.”
Temos direito ao nosso trabalho e não aos frutos
Essa é uma questão mais mística que Pressfield acredita, ele diz que, por exemplo, na visão dele, na crença dele, nós desenvolvemos em Arte coisas que são sussurradas a nossa orelha, que são imbuídas na nossa cabeça por seres do mundo sensível, que não são percebidos no mundo real em que vivemos, eles estão em outra dimensão talvez e, por isso, nós não podemos ficar muito apegados às coisas que são manifestadas por meio de nós, porque não é nosso. O direito autoral não é nosso, é no máximo, na melhor das hipóteses, compartilhado, então ele fala que não podemos ficar apegados a isso, ele acha que nós somos inspirados por uma musa e será a partir dela que iremos fazer um produto maravilhoso e esse produto, esse objeto, esse livro, essa música, eles precisam ser devolvidos novamente, precisam ser consagrados a essa musa.
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