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Domingo Arte


Hoje estamos inaugurando uma nova proposta para divulgação artística, o Domingo Arte. Todo domingo teremos a publicação de obras, curiosidades, dicas, agenda cultural, ligadas ao universo da Arte.


Para começarmos com o pé direito, estreamos com a obra do Artista, Professor e Coordenador da Pós-Graduação em Artes do Instituto Fênix, André Magnago.


Sobre a obra:

Título: Sem título

Tamanho:30 x 22 cm (estampa)

Gravura em linóleo

Tinta tipográfica sobre papel oriental

2014


Pensar uma obra de arte como uma manifestação do sujeito/autor na qual ele representa a si mesmo, é uma estratégia de leitura muito comum e recorrente nas artes.


Recentemente, conversando com um possível cliente interessado na gravura em linóleo que aqui está, coloquei-me a observá-la por esse ângulo.  Eu nunca tinha parado para ver este trabalho como uma representação que eu tinha feito de mim mesmo.  Foi uma experiência bastante interessante e creio, sinceramente, que o Instituto Fênix é o canal perfeito para expô-la, uma vez que se trata de uma Instituição Junguiana.


Embora o desenho deste trabalho não tenha preocupações foto-realísticas – pelo contrário, apresenta formas distorcidas -, acredito que seja possível localizar nele: um homem sentado em uma cadeira lendo um livro e um cão brincando sobre um pequeno tapete. Como um homem, um livro, uma cadeira, um cão e um tapete poderiam ser uma representação de mim mesmo?  Como todos eles seriam eu ao mesmo tempo? É a pergunta a ser respondida. Foi então que me comecei a relembrar o que vivi no ano de 2014 – data de realização da obra. Lembrei que neste ano sofri grande pressão para ingressar em um curso de mestrado em artes, tal pressão partia de mim mesmo e de um professor competente e admirável.


Eu havia me graduado no ano anterior e, no meio acadêmico onde eu me encontrava, partir logo para um mestrado era o mais adequado a se fazer.  Daí a explicação para o livro na mão do homem representado na estampa.  A cadeira, eu acredito, representa o fim pelo qual geralmente se busca a titulação de mestre: atingir um requisito para participar em concursos e, por fim, ocupar uma cadeira de professor em uma universidade, por exemplo.


Nesta obra, vejo também a questão da privação do lazer pela qual passa o homem acadêmico, ele precisa ler, precisa se preparar, precisa produzir textos, está muito ocupado com questões burocráticas.  Tal privação não atinge o cão, que se diverte debaixo da cadeira. E o cão… como entender o cão como parte desta complexa representação de mim mesmo? Neste ponto a loucura é imaginar um “autorretrato” parte homem e parte animal.  Isso me remeteu de imediato às mitologias das civilizações antigas, repletas de seres antropozoomórficos, como, por exemplo, os gregos que representavam a questão da porção humana (a consciência) de cada indivíduo contrastada com a porção animal (os instintos). Ocorreu-me primeiro a imagem do Minotauro (metade homem e metade touro), contudo, no caso do Minotauro, a cabeça é a parte animal e está fundida em um corpo humano. Isso denota um predomínio do touro sobre o homem: a figura do Minotauro é, por excelência, a imagem do domínio da animalidade instintiva sobre a consciência. O que não corresponde com a minha gravura, onde tanto o homem quanto o animal estão representados por inteiro, deixando claro que não há uma dominância de um sobre o outro. Seria eu, naquele momento, alguém dividido entre as atividades humanas e as necessidades instintivas? Provavelmente. Adianto aqui que o cão brincalhão ganhou, não fiz o mestrado.


Quais seriam então as necessidades que vinham da outra parte, de fora da minha consciência? Eu vejo a resposta no último elemento, ainda não esclarecido neste texto: o tapete! No Oriente, o tapete simbolicamente constitui um espaço mágico, nele as bordas representam os elementos erguidos em defesa e delimitação do campo habitado pelo divino. Sinto que o símbolo do tapete é compatível com as leituras que me interessam hoje, com a produção artística que venho desenvolvendo e com a vida que tenho levado. Conteúdos, práticas e hábitos que julgo incompatíveis e, por vezes, antagônicos ao cientificismo e ao pensamento discursivo vigente na academia.

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